Quem não se comove ao ver um animal abandonado sofrendo nas vias públicas, com maus tratos, doenças e todo tipo de dificuldades pelas quais passam esses bichos indefesos? Infelizmente na cidade de Angra dos Reis, essa cena se repete muitas vezes. Mas, felizmente, temos aqui alguns cuidadores que olham por esses animais e fazem o que podem para melhorar a qualidade de vida deles.
Célia Cristina Bezerra e Roberto Souza e Filho são alguns desses cuidadores que não medem esforços para socorrer a qualquer animal que encontram nestas condições e o levam para o “Canil da Marlene” onde cuidam de cerca de sessenta animais a espera de um lar adotivo. Página no Facebook: União Animal.
Veja abaixo nossa entrevista com estes dedicados amantes dos animais.
GTB: Célia, como você vê este trabalho de vocês?
O trabalho do Bruno Alcântara e do Roberto Souza e Filho é muito bonito. São cuidadores de tudo que está aqui, eles têm toda a responsabilidade. E alguns protetores ajudamos aqui dentro de nossas condições. Quando soube do falecimento da dona Marlene, que era proprietária desse espaço, eu cheguei a abracei a causa da castração, para castrar todos os animais, para evitar o aumento da população canina aqui dentro. Todos os machos já estão castrados. Tem algumas fêmeas aqui dentro, assim que possível nós as castraremos aos poucos, de acordo com a saúde delas. O Roberto sabe que pode pedir socorro, pois estamos unidos neste trabalho, porque não temos amparo de governo, não adianta pedir ajuda que não temos.
Junto com outros protetores, nos consideramos como formiguinhas que tentam ajudar no trabalho de Roberto e Bruno, no que eles não podem se disponibilizar. Procuramos manter a higienização, alimentação e os cuidados com os animais. Buscamos captar recursos para ajudar no trabalho deles. Quando recebemos doação de filhotes, levamos para feiras de adoção, para tentar diminuir. Fazemos o máximo para que a população do canil não aumente, mas encontrar um lar para os cães.
GTB: Célia, a prefeitura tomou alguma ação para minizar o problema de animais abandonados em vias públicas?
Ontem, a vereadora Jane Veiga entrou com o projeto que cria a comissão permanente de proteção e direito dos animais, no âmbito municipal, que foi aprovado hoje na Câmara, que é o requerimento de número 00916/2017, solicitando ao prefeito municipal que interceda junto à gerência de patrimônio mobiliário GTI, da procuradoria geral do município PGM para que informe quais áreas se encontram vagas, sem utilização no município, para que seja disponibilizada para a construção de um canil. A intensão é fazer algo que minimize o sofrimento de animais e que eles sejam tratados com carinho e respeito.
GTB: Roberto, como foi o surgimento deste local onde vocês cuidam de animais de rua?
Eu era amigo da antiga proprietária do local, Marlene Pereira dos Santos, ela tinha 87 animais. Ela internou, não tinha família, eu cuidava deles, cuidava do meu trabalho e ia para o hospital. Ela teve um C.A. que generalizou, ficou 60 dias hospitalizada e faleceu. Nos últimos dias no leito de morte ela sempre me pedia para cuidar dos bichos dela. Eu já gosto de animais, só em minha casa tenho 9. Tive algumas ajudas. Quando ela já estava no hospital tive ajuda para construir uma parte que não existia, isso aqui era tudo terra. Houve a construção dos canis. Célia Cristina é uma que está sempre comigo, pois se propôs a castrar todos os nossos machos. Algumas fêmeas não foram castradas pois algumas têm a doença do carrapato. Primeiro a gente trata para aliviar a doença. Tem umas fêmeas novas que apareceram abandonadas, queremos castrar que já apareceu adoção, mas querem os animais castrados.
GTB: Roberto, quantos animais estão alojados hoje neste espaço?
Atualmente estamos com 60 animais, com todos os machos castrados. Temos as veterinárias Priscila e Mariana que castram os animais para nós, sem cobrar nada. Jamais me nego a receber um animal abandonado, pois tenho espaço. Somente eu e o Bruno que cuidamos e meus dois filhos que, quando não estão na escola, estão comigo aqui ajudando.
Novos hóspedes
“Sempre acolhemos animais que chegam. Quando os recebemos eles são confinados, para vermos o estado em que estão, e depois juntar com os outros que estão sadios.
Há pouco tempo recolhemos uma cadela que estava prenha, que queriam jogar no mar. Ela chegou num dia aqui, no outro teve 10 filhotes. Conseguimos que todos fossem adotados. Ela foi castrada. Com oito dias de cirurgia ela foi adotada.
Hoje mesmo estamos esperando chegar um abandonado que acharam dentro de um valão.
Temos um cego, que jogaram perto do nosso canil. Como ele é cego, ninguém quer ficar com ele, ninguém quer cuidar.”
GTB: Roberto, quais são suas prioridades neste local?
O que mais precisamos para estes bichos é alimentação, pois sou um empregado comum, não tenho muitos recursos.
DOADORES
Minha chefe nos ajuda há anos, tanto com ração, quanto com material de limpeza.
Temos um grupo do centro de Angra que também ajuda, como a Natália, Samira Laranjeira, Naira, lá da Petrobrás.
Temos uma juíza federal que faz uma ajuda direto na loja do frade de ração.
Um professor da Antônio Dias Lima que também faz uma doação, ele mesmo compra e trás ração para nós.
Também estamos abertos a ajuda de voluntários no local para ajudar a cuidar dos animais.
Recebemos a visita de um médico italiano, o Aldo Locurto, Ele faz ação humanitária com pessoas. Esteve em Angra visitando aldeias indígenas em Angra e Paraty. A Suzana Oliveira o trouxe para nos conhecer. Ela disse para ele: ‘vamos ajudar uns bichos?’ Ele esteve aqui que e disse que deveríamos montar uma equipe para passear com esses bichos. Somos só eu e o Bruno, eu trabalho, como vou passear com os bichos? São sessenta, e alguns se confinaram aqui e não saem mais na coleira. Mesmo estando nós cuidando dos animais, é uma situação difícil. Lá na Itália as pessoas ganham para ajudar, têm equipe interna e externa. Ele está tentando agora enviar-nos medicamento.
MEDICAMENTOS: item caro para nós quando os animais adoecem. Grito por ajuda de remédios quando não tenho. Fazemos rifa para arrecadar verba para remédios. Boa parte das fêmeas castradas teve doença do carrapato. Tomou uma remessa já do remédio. Nenhum órgão governamental dispõe de qualquer verba para o cuidado com os animais aqui resgatados.
GTB: Roberto, como é a rotina do local?
Duas vezes por semana o canil tem que ser limpo, com cloro para evitar mosca, evitar carrapato. Tudo é pulverizado uma vez por semana.
Os banhos são dados de quinze em quinze. Primeiro os cães de um canil, depois de outro.
As pessoas que queiram nos visitar, queiram ajudar, liguem que estamos aqui até meio dia e depois das cinco da tarde também. Assim verificamos como estão todos, a alimentação deles.
GTB: Roberto, como é feito o trabalho em Feiras de Adoção?
São importantes pontos para encontrarmos lares para os animais. Geralmente os filhotes quando vão para adoção nas feiras, nunca voltam. Salientamos que os animais que são doados, são cadastrados com os nomes dos doares, assim sabemos para onde eles vão, e com a facilidade da internet e do whatsApp podemos acompanhar se estão se adaptando bem, tanto o adotado como o novo proprietário. Os grandes têm mais dificuldade de serem adotados.
Nas feiras falta geralmente gaiolas grandes para colocar os cães maiores e a prefeitura podia ceder este material. A Fusar até tem mas não temos como levar e trazer, pois são gaiolões.
GTB: Roberto, e quanto a lares temporários, este trabalho é realizado?
Temos dificuldade em encontrar lares temporários. Porque muitos não entendem que é às vezes por algumas poucas semanas até que se encontre um lar definitivo. Lembramos que com o lar temporário mantemos a alimentação do animal.
GTB: Roberto, para finalizarmos, qual sua sugestão para solucionar o problema de animais abandonados em Angra dos Reis?
Para acabarmos definitivamente com o problema do abandono de animais em nossa cidade, acredito que é preciso a atuação do poder público. É preciso que os vereadores lutem para ter um canil público, como a Vereadora Jane Veiga, que já foi secretária de ação social, vem fazendo. Castrar é importante mas, o animal castrado volta novamente para rua, é atropelado, é espancado, então o poder público deixa muito a desejar.
Cuidados técnicos
Nenhum dos atuais cuidadores do canil tem conhecimentos técnicos para cuidar dos animais, somente a experiência prática de cuidadores. Célia Regina, buscando aprimorar seus conhecimentos na área, está atualmente realizando o curso de Auxiliar de médico veterinário, promovido pela GLOBAL TEND BRASIL TREINAMENTOS, no bairro Parque Mambucaba.